quarta-feira, 15 de agosto de 2007

5. O que muda no discurso.

[Resumo do ensaio: vide capítulo 1]


Quando ligamos o computador seguimos uma rotina. A maioria abre o navegador, verifica e-mails, responde alguns, busca algum assunto de interesse, lê, adiciona aos favoritos para ver depois [o que geralmente não faz] e repete alguma dessas rotinas.

A Internet não nasceu aberta ao conteúdo do usuário e como em outras mídias predecessoras era lugar destinado a absorção de informação menos do que publicação. Emitia-se opinião no bar com os amigos, no café com os colegas de trabalho e na mesa do jantar com a família. Há quem diga que a Internet separa as pessoas por que as põe isoladas em frente a tela da máquina com apenas um teclado e um mouse. Em compensação a Internet pode unir pessoas fisicamente muito distantes. Em verdade o espaço físico não faz a mínima diferença na rede. É muito gratificante trocar algumas palavras com amigos na rede, quem sabe vê-los e sermos vistos através de uma webcam. É melhor do que nada, mas infinitamente pior do que a presença física. Será?

Alguns se sentem mais a vontade no anonimato ou sob a máscara de seus avatares para dizerem o que pensam. Não costumamos ver pessoas comuns subirem em caixotes em meio a praças e gritarem aos quatro ventos seu pensamentos mais profundos e pessoais. Na rede o equivalente disso não soa tão absurdo. Estaríamos perdendo o medo do público, ou é só efeito da “blindagem” tecnológica?

Essa é uma diferença do paradigma midiático da televisão para o do vídeo na Internet: o espectador não fazia parte do mesmo espaço-tempo do discurso do vídeo, hoje é o próprio que o cria e recria. Quando se acessa um vídeo no YouTube não se assiste apenas ao vídeo, se lê os comentários dos usuários logo abaixo, e tudo isso faz parte do discurso. Quando se comenta um vídeo se está alterando o próprio discurso do vídeo. Não se assiste um discurso, se experimenta ele, se interage com ele. Isso ignorando as respostas em vídeo que põe a disposição do sujeito o mesmo suporte da mensagem original. Um discurso que se segue a outro.

Interação ou comunicação mútua (citar) é o nome dado a esse conceito outrora restrito aos textos de blogs e wikis. O reles usuário passa a ser interagente, ator efetivo da criação do conteúdo, trazendo suspiros de esperança a Theodor Nelson, quem cunhou o termo hipertexto.

Tudo muda muito rápido na Internet: a tecnologia, os usos que o internauta dá a ela e a repercussão que ela tem fora da rede. Desde o estoura da “bolha” da empresas .com, em 2001, até o presente muita coisa mudou, muita coisa nova surgiu e é seguro surgirá. Mas uma coisa mudou radical e definitivamente: aquele que anteriormente era usuário, relegado a usar o que já estava predefinido, não mais se contenta em apenas percorrer o caminho traçado na ordem que quiser. Essa interação não é mais satisfatória mesmo que não se tenha esperança de um dia ter acessado tudo. O que se quer é expandir a fronteira do conteúdo acessível aos outros; publicar.

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