quarta-feira, 15 de agosto de 2007

2. YouTube, a Gillete do compartilhamento de vídeo na Internet.

[Resumo do ensaio: vide capítulo 1]


Existem marcas que pela ubiqüidade acabam por significar o próprio nicho de mercado que ocupam, ou produto que assinam. Gillete no Brasil é sinônimo de lâmina de barbear. O YouTube ainda não chegou, talvez por uma questão de tempo, a ocupar tal pedestal. Contudo é de longe o mais conhecido e acessado site de compartilhamento de vídeos. Não é raro ver pessoas dizendo que viram no YouTube vídeos que em verdade forma vistos em outros sites do mesmo tipo. O que faz o YouTube tão único? Público é a primeira das respostas. Os vídeos do site são publicados pelos próprios usuários, então, quanto mais pessoas mais vídeos. Quanto mais vídeos, mais pessoas. Esse ciclo, e algum buzz adicional, fomentaram o sucesso do YouTube. Pioneirismo é, em parte, outra resposta para o seu sucesso.

O modelo que se popularizou com o Youtube para o compartilhamento de vídeos inicia-se com Chase Norlin em 1998: sua idéia é um site onde o visitante possa publicar seu próprios vídeos, chamou-o ShareYourWorld. Sete anos à frente de seu tempo esse modelo só foi bem sucedido no final de 2005 pelas mãos de Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ex-empregados do PayPal, sob a alcunha YouTube. Ironicamente foi a quebra de direitos autorais (prática condenada pelas políticas do serviço) o fato gerador de maior notoriedade ao site: um episódio curto do programa Saturday Night Live foi publicado à revelia do detentor de seu direitos, a NBC Universal, que por ação judicial conseguiu a retirada do vídeo do ar em fevereiro de 2006, um mês após sua publicação. Não apenas pela audiência desse vídeo, mas pela polêmica gerada pelo processo movido pela NBC, e outros que se sucederam, vastamente noticiados pelas redes de televisão americanas, a popularidade do YouTube foi catapultada.

Atualmente o YouTube serve mais de 100 milhões de vídeos diários dos mais irrelevantes aos de maior importância, grande maioria exclusivos. Mídias tradicionais fazem referência ao site tornando-o mais real. Nesse contexto há uma mudança na relação dos sujeitos com o discurso da imagem em movimento. Não se precisa mais estar sintonizado a um canal ou esperar a hora em que o programa será transmitido, tem-se um programa a qualquer hora. O discurso que passa na tela não é mais parte de uma grade de programação constante e conhecida, é uma possibilidade nova à toda a hora. Essa é uma mudança pequena se considerarmos que o conteúdo é, em maioria, publicado e produzido por sujeitos – interagentes, antigos expectadores – em um movimento de inversão de sentido do fluxo da informação. Surge uma mídia de comunicação periférica onde a mensagem flui em qualquer sentido, não distinguindo cliente e servidor. Na televisão a mensagem originária se propaga de poucos emissores para muitos receptores. Na rede a mensagem circula em várias esferas de privacidade, e em vários sentidos entre os nodos. Ainda que guardados em um servidor os vídeos circulam em qualquer sentido, sem restrição.

Vamos falar do YouTube como se estivéssemos falando da Gillete, ou seja, como representante de todo o nicho de sites de compartilhamento de vídeos. Lá o usuário pode publicar o que quiser, ver o que quiser e escrever (ou capturar) o que quiser sobre o que viu.

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