sexta-feira, 20 de julho de 2007

Depois da chuva, o arco-íris

Ontem, quando escrevi sobre o acidente de Congonhas, ainda estava sob efeito da catarse da catástrofe. Ainda pensava: Por que deixaram isso acontecer. É um problema congênito desse governo. Não escolhe as pessoas por mérito. Não pode deixar de acomodar o ambiente político, pois qualquer desequilíbrio faz alguém puxar a coberta e deixar outrem com os pés descobertos. E outrém com os pés descobertos pode abrir a boca. E bocas abertas acabam em CPI. Aliás já há a CPI do Apagão Aéreo desde 17 de maio, da qual o senil Sr. Ministro da Defesa Waldir Pires já se encontra escanteado há tempos. Ele deve perder o cargo de Ministro diz o Presidente Lula. “O Exército e o Tribunal de Contas da União deve cuidar do caso”, diz o relator da CPI, o democrata (me sinto nos EUA) Demóstenes Torres.

É até irônico que um tribunal de contas vá investigar o ocorrido. Já fica bem claro que além dos problemas técnicos que o Exercito terá de encontrar, há um problema financeiro. As contas não fecham; o dinheiro estava lá e o problema está aí.
Nas entrelinhas o governo parece querer deixar claro que cabeças vão rolar. Alguns já sentiam o frio da navalha no pescoço. Quando sentem que a navalha que lhes ia decapitar se afasta, aproximando-se de outros pescoços, comemoram. Qual reação seria mais torpe do que essa no momento trágico em que vivemos.

Não estou aqui para fazer crônica política. Estou para falar de Jornalismo Cidadão na Internet.

Quero falar sobre uma coisa que me chama a atenção neste vídeo do Youtube:




Antigamente a memória do público tinha que ser alimentada quer pela repetição nas mídias de massa, quer pela reprodução oral do que os cidadão viam e ouviam. A cultura oral foi nossa primeira forma de fazer história. Hoje, aparatados de placas de captura e computadores, pessoas comuns gravam as notícias e republicam em serviços de . Fazem reproduzir o que antes dependia da intenção das empresas de mídia massiva.
Nessa circunstância não há mais como fazer esquecer as imagens marcantes. Se o público quer ver ele vai poder.

A popularização de câmera digitais em celulares faz com que cada vez mais a captura dessas imagens possa ser feita em locu, gerando assim uma via totalmente alternativa para a notícia.

Novamente o que dependia da empresa de mídia pode ser feito pelo cidadão.
Quem confia nisso? Quem tem critério confia em algumas coisas, quem não tem confia em tudo. Há quem não confie em nada, mas estes não tem mais força pra colher, cozer e mastigar a informação, e as vezes até nem para cuspir o caroço. Estão por demais acostumados à “papinha” de manhã cedo. A uma regurgitada com os amigos da “firma” e um sono tranqüilo. Bons tempos onde tínhamos a desculpa de dizer que não tinamos nada o que fazer pra mudar a situação. Bastava ser máquina.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Acidente do vôo TAM 3054 em Congonhas

Parece que todos os dias acordamos para conviver com notícias tristes. Vivemos bombardeados pela negatividade das notícias recentes. Já calejados e insensíveis à tanta negatividade, quase não reagimos às barbaridades que ouvimos nos noticiários.
Quando chegam a nós notícias de uma tragédia é que abrimos os olhos e começamos a querer saber, buscar a verdade frente aos eventos. Não satisfeitos com as notícias oferecidas pelos veículos tradicionais, na Internet e fora dela, pulverizamos a rede com nossas visões do evento. Fazemos clipping, compilando notícias de vários veículos em canais abertos de publicação (wikis, blogs, flogs, etc) como forma de apresentar como dispomos e juntamos os fatos que pipocam nas mídias. É pena que agora só nos reste chorar o "leite" deramado...

Nas crises ocorrem mudanças, brotam soluções. É interessante, embora trágico na circunstância, o movimento das redes sociais na Internet em prol de externar a consternação dos usuários frente aos eventos recentes na aviação no Brasil. Tanto se fez nesse ímpeto de tristeza que fica no ar uma névoa de culpa por não ter feito antes a mesma mobilização de agora à tempo de contornar os efeitos nefastos da crise. Em matéria no site Eu-Repórter do oglobo.globo.com uma leitor expressa seu sentimento de impotência frente aos fatos e faz uma mea culpa da tragédia, afirmando que somos todos culpados pelos eventos decorrentes da falta de infraestrutura no Brasil, por comodismo ou omissão.

Essa consciência da responsabilidade sobre o problema chama atenção do público leitor -consumidor de notícias- para refletir sobre o quanto ele deixa de colaborar com a qualidade do seu país por se omitir assumindo papel passivo nos acontecimentos. Essa mea culpa é ainda mais contundente por estar veiculada em um jornal tradicional (O Globo) fora da rede, mostrando o poder da palavra do cidadão para não só lamentar os fatos ocorridos, mas para manifestar a insatisfação e a iminência de problemas. Um acidente no aeroporto de Congonhas, encravado no meio de São Paulo, com o movimento que tem, já era mais do que anunciado. Um dia antes do acidente um avião menor já derrapara na pista. As condições da pista em dias de chuva vinham sendo questionadas. E agora vem-se saber que o avião estava com o reverso (dispositivo que inverte o fluxo da ar nas turbinas) desligado desde o dia 13, e que o mesmo avião já havia apresentados problemas ao tentar aterrizar em Congonhas.

Resta a todos a questão: Por que não falei nisso antes? Era óbvio! Espero que essa questão não desocupe a cabeça a dos responsáveis pelo acidente. Nós usuário, que pouco podemos fazer, e por este pouco nos culpamos, devemos seguir o exemplo de alguns poucos que dedicam seu tempo a publicar notícias nesta rede. Aqueles que publicam fotos, vídeos e textos. Aqueles que, inconformados com o absurdo que nos habituamos a chamar de normalidade, registram na rede a sua história.

Quatro horas e meia depois do acidente a Wikipédia lusófona apresentava um artigo sobre o acidente. Mais de 500 edições depois o artigo possui uma detalhada reportagem e link para a lista de vítima do acidente. Nove fotos, manifestações oficiais de governos, órgãos públicos envolvidos e da empresa aérea TAM. É verdade que há um grande volume de edições em artigos de eventos recentes, mas este cresceu rápido, está bastante completo, e seguindo-se as atualizações a medida que novas informações surjam, deve formar um ótimo registro histórico.

Na Wikimapia está marcado o local exato do acidente com alguns detalhes e link para o artigo da Wikipedia. Nas Comunidade do Google Earth (aplicativo de vizualização de mapas do Google) está publicado um pacote adicional que permite ao usuário deste aplicativo vizualizar a rota de colisão do avião sobre o mapa, além do local do impacto.

No Flickr dezenas de fotos do acidente, fotos de luto e de protesto surgiram desde a terça-feira fatídica. No Youtube vídeo com imagens das vítimas, extraídas da própria Internet, acompanham a mensagem de condolência de um usuário. Um vídeo mostra o local do acidente visto da janela de um apartamento próximo ao aeroporto de Congonhas.

É interessante para um povo tido como “sem memória” que estas manifestações de civilidade sejam enaltecidas. Essas informações compões grande parte do conteúdo menos perecível da rede sobre esse evento dantescos. Ficarão para a história, para consulta e atualização. Mostram o poder que o usuário tem para expor suas idéias, comunicar e escrever a história como ator, não como mero espectador. Põe a tona várias discussões tanto sobre a segurança da aviação, quanto sobre a responsabilidade individual nos sinistros que populam os noticiários. Quantos desses desastres poderiam ser evitados se aqueles que convivem com o problema de perto saíssem do anonimato e comunicassem de antemão os potenciais desastres. Depois que o “leite” derrama, e respinga, os dedos começam a levantar.

O ocorrido levanta diversas discussões dentro e fora do território brasileiro. Aeroportos encravados em centros urbanos ao redor do mundo visualizam problemas futuros. Pilotos, controladores, funcionários se manifestam sobre o ocorrido e problemas do que já atende por “Caos Aéreo”. que antes era um problema de logística e cada vez mais se apresenta como um problema político. Os próprios controladores de vôo, militares, põe em risco a sua liberdade para reivindicar melhores salários e condições de trabalho. O que antes se apresentava como um problema de quem voa agora passa a esfera de problema público, que mancha inclusive a imagem do Brasil nas candidaturas para sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Os críticos do Jornalismo Cidadão na rede temem pela qualidade do seu conteúdo. Esse evento e sua repercussão na rede mostram o quanto a convergência da vontade pública podem gerar resultados concretos e palpáveis. O respeito, maturidade e velocidade com que o Jornalismo Cidadão cobriu este evento são vetores que indicam um ambiente saudável para que num futuro breve surjam coberturas jornalísticas preventivas mais do que curativas, como é o caso.

Trágico acontecimento. Manifesto minhas condolências às famílias das vítimas. Conforta-me a boa reação da comunidade de usuários na Internet. Espero que esse movimento prossiga, e que ao publicar nessa rede, façam bom uso da liberdade para não fazer em vão a morte desses cidadãos.